domingo, 15 de outubro de 2017




ESTE DIA DO PROFESSOR TEM NOME E SOBRENOME: HELEY DE ABREU SILVA



Vivemos o tempo da pobreza intelectual e cultural. Diariamente somos bombardeados com notícias sobre a corrupção, desmandos, violência, impunidade, maus exemplos, analfabetismo, desmoralização das artes, empobrecimento cultural, desrespeito à família e à infância, desvalorização da religião... A degradação humana parece ser o sintoma de um mundo em crise.


À medida que isso se abate sobre nós, sofremos e ansiamos por mudanças. E o único caminho para alcançá-las, é a educação. Tudo passa por ela, em especial, o futuro. Não se faz um país sem escolas.

Crianças em sala de aula, pais participativos e professores preparados e bem remunerados, são a garantia da salvação de um país. Escolas não são feitas de edifícios, mas de pessoas. 

Uma criança que ama a escola pensará em ser professor um dia. E ela inexoravelmente o será, se não na escola, na vida.

Por isso, não adianta improvisar ou remendar. Escola não é depósito de crianças; é o lugar mais importante na vida de uma pessoa. É diante do caderno e do lápis que histórias começam a ser contadas.

Ainda lembro com muito carinho da minha professora, Da. Maria. Ela prezava a leitura. Sempre trazia um livro com gravuras diferentes para estimular a nossa curiosidade. Com ela não foi difícil juntar as vogais com as consoantes, e descobrir a mágica de como as palavras se formam. Era preciso ter cuidado com as letrinhas que iam sendo bordadas no caderno de caligrafia; não poderia “sair pra fora da linha”, tinha que caprichar. Por meio de jogos de palavras, do lúdico, de gincanas de caça letrinhas, ao final do ano, estávamos lendo e bordando letras, enquanto o mundo ganhava um novo significado.

Passaram-se anos... até que o colégio fez um encontro com os antigos alunos e professores. E lá estava ela: Da. Maria. A cabeça já toda branquinha (levei um susto, a gente sempre imagina a pessoa do jeitinho que a conheceu); mas o porte, o olhar doce e o sorriso cativante, eram os mesmos. Num impulso me aproximei para abraçá-la. E que abraço!!! Disse-me com a voz cadenciada de sempre, que apesar do tempo, se lembrava de mim: a menina de olhos azuis de tranças com lacinhos coloridos. Sim, eu usava tranças com lacinhos coloridos. Imaginei naquele momento que ela deveria ter uma memória privilegiada ou que, talvez, os lacinhos coloridos tenham marcado nossa convivência de alguma forma.

Mas o que importou mesmo naquele reencontro foi o abraço. Nele estava toda a minha gratidão pelo amor que hoje ainda guardo pela leitura e a escrita, e que tão importante foram no caminho que escolhi. Sem isso, não estaria hoje aqui escrevendo. Foi em razão dela e por meio dela, da forma como um dia nos incentivou e motivou, que o futuro se abriu. Todos que encontrei e compareceram àquela reunião, chegaram aonde sonharam chegar.

Isso porque a educação é mais que o ato de educar, é um processo transformador.

Por essa razão, é preciso que o Governo invista na educação do presente, valorizando os professores que, muitas vezes, dedicam uma vida inteira à arte de ensinar, remunerando-os bem.

Mas... infelizmente, não é o que vemos...

A realidade tem se mostrado divorciada da educação. Greves, depredação de escolas, desvios de recursos, sistema de cotas, doutrinação ideológica... A escola é feita de valores, dos pais, dos educadores, de Português, Matemática, História, Geografia... aprendizado, todo o mais é viés político para doutrinar as crianças, e não educar.

E o pior de tudo: professores estão sendo agredidos física, moral e verbalmente por alunos em sala de aula ou nos corredores da escola, levando ao afastamento médico e até ao abandono da carreira. Ser professor hoje em dia virou profissão de risco. Isso é inimaginável!!!

Onde ficaram as demonstrações de afeto de ao mestre com carinho?!? Em que momento isso se perdeu?!?

Tudo começou a mudar quando uma política educacional demagógica e burra passou a difundir que criança saudável é aquela que tudo pode, e não tem dever algum. Em nome de uma ideologia paternalista ensina-se crianças e jovens a contestar, depredar e  reivindicar, antes de obedecer, ter disciplina e respeito. Repreender, corrigir, colocar limites, disciplinar, é proibido e reprovável.  Se o professor suspende um aluno por má conduta em sala, o pai desse aluno vai à diretoria - pasme - para se queixar do professor, tirando-lhe a autoridade. Oi??? Pode dar certo isso?!?

Responda rápido: Como a escola e o professor ganham importância e reconhecimento? Quando ela (escola) se torna um templo do saber e do conhecimento.

Nesse contexto, é difícil imaginar a função do professor quando, por lei, ele é obrigado a aprovar aqueles que não sabem fazer o “o” com um copo, apenas para mostrar ao mundo os altos índices de aprovação no país, mesmo que o aprendizado seja zero. A farsa do eu finjo que ensino, você finge que aprende. Isso é arruinar o futuro de um país!!!

Por mais que o professor se esforce em ensinar e transmitir conhecimento, parece vagar diariamente num mar de incertezas, sendo arrastado pelo redemoinho de águas turvas do atual sistema educacional. Ele é mal remunerado, e não à toa, por vezes se sente cansado, desanimado e frustrado. Mas, apesar disso, aquele que é vocacionado, continua acreditando em sua profissão e lutando por seus alunos.

Alguns deles podem levar isso ao limite... Como a professora Heley de Abreu Silva, que morreu tentando salvar seus alunos do incêndio na Escola Gente Inocente, em Janaúba, Minas Gerais. Naquele momento não pensou em si mesma, nos filhos, no fogo que a queimava, na dor, no medo diante do imponderável... pensou apenas em salvar aqueles a quem amava como filhos.

Não há quem não tenha se comovido!!! Como gostaríamos que ela tivesse salvo as crianças e se salvado, para levar todo esse amor e dedicação a outras crianças!!!

Deveria ser uma pessoa e uma professora extraordinária. Dessas que a gente nunca mais esquece...

Seu salário mensal? R$ 1500. Isso mesmo: R$ 1500 era o salário de Heley, professora, mãe de três filhos, que todos os dias acordava cedo e ia a pé até a escola, onde certamente era recebida todas as manhãs por ternos e doces sorrisos, sua maior recompensa.

Em um país onde há tantos maus exemplos, ela foi um bálsamo de bondade, solidariedade e generosidade.

Foi tão generosa, mas tão generosa, que não permitiu que nove dos seus aluninhos, chegassem sozinhos, assustados e perdidos ao céu. Certamente, quando eles lá chegaram, a primeira coisa que viram foi o seu rosto e suas mãos estendidas para conduzi-los até o firmamento, onde agora brilham como pequenas estrelinhas ao redor de uma poderosa luz. É a constelação Heley.


Sou eu que vou seguir você 
Do primeiro rabisco até o be-a-bá...

Shadow/Mariasun Montañés



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